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terça-feira, 25 de março de 2014

A Paixão

 A paixão alucina, transforma, altera, deturpa a realidade. Vicia, acelera, enche o corpo de energia e o coração de insensatez e coragem. Para realizar-se o desejo distorce os fatos, afeta a capacidade de raciocínio, emburrece o amante, inventa o amado. Passada a paixão, quantos de nós já nos surpreendemos atônitos pelas decisões que tomamos sob seu efeito? A paixão é alucinógena, altera a visão, minimizando defeitos e usando lentes de aumento para as qualidades. Reinventa a matemática, dois viram um, projetados, confundidos, simbióticos. É feitiço do reino de Dionísio que com seus desmembramentos nos faz perder a cabeça, ficarmos cegos de paixão, romper com a antiga ordem e lançar o alma no caos. A paixão incendeia, é fogo, combustível. Consome, devora, aguça os sentidos. Do Deus e sua fúria a paixão herdou o êxtase, o frenesi, a força do desejo para realizar-se a qualquer custo. Apaixonar-se é enlouquecer, é tirar os pés dos chão. Paixão é Ego sem leme ou direção, é phatos, patologia, prazer e desagregação. O apaixonado é um doente, doente de amor. Não existe erro ou delito sob a égide de uma grande paixão. 
Não poderá, por isso, julgar o apaixonado outra pessoa se não aquela que também tenha conhecido o poder e a força de uma paixão.

Andréa Beheregaray


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